A Educação Ególatra e de Mercado.
Dos fenômenos educacionais contemporâneos, decerto o que me causa mais necessidades “draminícas”*, é o do/a professor/a que insiste em se fazer animador de auditório. Neste espetáculo dantesco, não existem alunos, mas espectadores, onde o conteúdo se esmaece em meio às performances um tanto quanto patéticas, dos já citados animadores.
Ratificamos a constatação/provocação de Lima Barreto: “no Brasil não existe povo, existe público”.
Outro dia assisti uma palestra, na qual o suposto palestrante se contorcia e contava “causos”, numa tentativa louca e frustrada de nos... ENTRETER! Confesso ter me sentido infantilizada ou quem sabe posta à força no “terceirão” d´alguns destes “colégios” de formação(?) em escala industrial, rumo ao outdoor totêmico da educação vestibulesca.
Entretenimento!... Eis a nossa nova obrigação, incentivada e assinada por alguns seres-professores/as, que se rendem aos apelos do famigerado mercado, em nome de alguns trocados.
Enquanto “assisto” ao desfile destas pérolas, me recordo de um sábado ensolarado enfurnada numa sala de São Lázaro, onde esperávamos a chegada do professor convidado para nos falar sobre a formação política brasileira. Um senhor sóbrio, quase dois metros de altura, passos lentos, que a priori nos fez olhar com olhinhos sonhadores para aquele sábado chamativo.
Porém,
Sentou na cadeira, falar cadenciado... Progressivamente as suas palavras foram nos envolvendo, numa crescente de interesse e encantamento, que prescindia de caras e bocas.
Indelével!
... Não éramos mais os mesmos do início da aula. Aprendemos.
O que houve conosco, em São Lázaro, não foi o êxtase superficial de uma didática-rebolation, dos modismos venais de época, mas a e-moção sem alardes, do conhecimento emanado daquele senhor que provavelmente não poderia dar aula em muitas salas de Ensino Médio, desta cidade.
Não teria público!
Tudo isso não exclui rir, não exclui brincar, não exclui o lúdico, nem mesmo define um protótipo ideal de professor/as.
Precisamos sim, fazer a reflexão sobre a nossa prática e o nosso preço! Começar a desconstrução da midiática figura daquilo que poderíamos chamar de PROFESSORATION!... Um enlatado com realçador de sabor, arremedo de educador, que me faz ter pesadelos com Paulo Freire numa lousa eletrônica, mostrando o macetinho do vestibular, entre uma e outra piadinha de mau gosto.
* Alusão ao remédio Dramin, que serve para evitar enjôos.
* Alusão ao remédio Dramin, que serve para evitar enjôos.
7 comentários:
Belíssimo texto, dispensa maiores comentários...
Excelente minha pró. Precisamos divulgar esse texto.
Shanti
Apoiado. Há uma distância imensa entre um recreador e um professor.
Cara colega:
Recebi este seu texto de um amigo e fiquei encantado.
Parabéns!
Saudações
Educadora de professores,
Obrigada por compartilhar conosco suas reflexões sobre o nosso cotidiano.
O que não falta é quem não faz nada e acha que faz muita coisa... pessoas rasas, que nada têm a partilhar valorizadas pelo sistema capitalista que produz cada vez mais imbecis considerados "os bons".
Perfeito! chega de idiotice... jovens merecem qualidade e profundidade!
O texto é certeiro!
Há muito o prazer, que é tão indispensável para o homem - enquanto um ser que possui necessidades abstratas e subjetivas que vão além de suas necessidades biológicas - foi confundido e reduzido a simples e rasteira diversão. Esse mesmo itinerário seguiu o conhecer, o aprender os quais,não sendo mais vistos como prazer (que são), só parecem ser interessantes se forem "transmitidos" na forma de diversão, o que superficializa, normalmente,o conteúdo das aulas. Ao professor parece não mais caber o papel de ensinar, mas sim o de entreter. Consequência direta e indiscriminada de uma sociedade hedonista e midiática, essa postura meio de animador de auditório deve ser revista sim. Por isso, textos como esse da professora Daine tem que existir e serem mais divulgados não só entre os integrantes do corpo docente,mas principalmente entre os diretores, alunos e pais, que, muitas vezes, são os que não apenas são coniventes com essa prática, mas também a incitam. Concordo com a importância da ludicidade na educação infanto-juvenil, mas esta sempre deve ser um meio jamais o fim.
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