"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música." Nietzsche

Formspring

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Da série: Desabafos de uma Educadora em Crise

UM LEÃO POR DIA, DANUZA*

“Homens e mulheres são pessoas”, óbvio. No entanto, ambos estão submetidos a relações de poder que definem ou influenciam nas suas respectivas trajetórias de vida. Óbvio. Estar escrito na Declaração dos Direitos Humanos que somos todos iguais não é uma solução, mas um parâmetro para se buscar soluções.

O que inquieta nos discursos daqueles que são contra medidas que visem atenuar assimetrias historicamente construídas, é a incapacidade de compreender ou desejar compreender o “sentido”, a amplitude, a profundidade do que se está posto.

Voltando ao óbvio, para mim seria óbvio que Danuza Leão soubesse, por ser uma mulher que dentre homens e mulheres, está para “mais inteligente”, que o “ultrapassado” é um ponto de referência mais apropriado para a moda, não para a História, apesar de aquela estar nesta. Seria óbvio que Danuza entendesse a necessidade de políticas baseadas no conceito de Gênero, por saber que mudanças não dão em árvore.

Pelo contrário, na História os comportamentos tendem a estar submetidos a uma força inercial que os fazem engessados, como uma máquina cujo combustível advém da repetição de comportamentos. Ainda na faculdade discutíamos através de Fernand Bradeul, que transformações na mentalidade de um povo são acontecimentos de longa duração. Por isso as fogueiras ainda fumaçam.

Desta forma, nem a Declaração de 1948, nem o feminismo do século passado, determinaram a derrocada de comportamentos misóginos. O que fazer, então? Assistir passivamente mulheres sendo espancadas, exploradas, ocupando menos espaços socialmente privilegiados, enquanto idilicamente chega a solução para uma realidade que faz as mulheres terem que matar um leão por dia, Danuza?

Determinar políticas públicas baseando-se num ideal eqüidistante do real é omissão, irresponsabilidade, quando não violência política, que no seu conceito original/ideal fala-nos de bem comum. Classificar de antiquada e preconceituosa uma política para contribuir na implosão de um edifício patriarcal secular, em se tratando de Brasil, é uma inversão perigosa,  e em nada contribui para que aquela igualdade citada, se efetive.

Espero que a Presidenta não te “ouça”, cara Danuza, mas sim esteja sensível e atenta as dores e necessidades de milhões de outras mulheres cujas vozes não reverberam através de um dos maiores veículos de comunicação deste país, como é o seu caso.

Porém, apesar do desacordo, certamente o melhor para o Brasil seria que você estivesse certa, óbvio. O lamentável é que não está.

* Danuza Leão, colunista da Folha de São Paulo, que classificou de antiquada e preconceituosa a postura da Presidenta Dilma ao anunciar que 1/3 das vagas da sua equipe será de mulheres.

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