SEM TEMPO PARA ACREDITAR
Apesar da desvalorização da nossa profissão
Apesar do salário da nossa profissão
Apesar da infraestrutura do nosso local de trabalho
Apesar das salas cheias e inquietas
Apesar de tudo isso e mais um pouco
Inclusive, apesar mas sem pesar. Ou seja, sem ir para a sala com um eterno lamento, na ladainha dos obstáculos. Amo dar aulas, acredito no que faço. Entretanto, diante da delicada realidade apresentada, não há como não dizer que o exercício docente é uma luta, e como toda luta, tende a cansar.
Ontem, por exemplo, fiquei indignada ao receber a confirmação de que deveria liberar os alunos do Colégio Estadual Josefa Soares às 22:00, por determinação da Direc. A minha aula vai até 22:30h, porém devo liberar trinta minutos antes (dizem alguns, porque o estado não quer pagar adicional noturno). Começar a aula mais cedo é tarefa difícil, pois envolveria mexer nos transportes que trazem os alunos, nos três turnos, das diversas localidades do município.
Em suma, são apenas duas aulas por semana, para o Ensino Médio, de apenas 40 minutos, mas temos que abdicar de 30 minutos, em nome do mentiroso sistema educacional público deste país. Diante disso, o meu edifício de crença na docência, se abala profundamente.
De maneira irônica, a aula foi interrompida enquanto trabalhava um texto sobre Copérnico, ressaltando como os seus estudos revolucionaram a forma de ver a terra, e por conseguinte o mundo. Frutos do sistema educacional que temos, a turma estava com dificuldade para entender o conteúdo, então acompanhava artesanalmente a leitura e interpretação. Paramos antes do texto revelar que a revolução foi possível.
Enfim, não são os míseros trinta minutos, que me indignam como professora, como cidadã, como ser humano, mas a certeza de que o tempo passa, e as coisas não melhoram, do ponto de vista da justiça social, da ética e da dignidade, no país da Copa e da Olimpíada. Lugar em que a educação continua, "apesar de".
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário