UMA QUESTÃO DE GÊNERO
É inevitável olhar o mundo e não perceber, pelo que vemos nos noticiários, nas ruas, calçadas, praças, índices e grades, que ele precisa de cuidado. Angustiante, entretanto, é saber como ainda estamos longe de um paradigma que nos leve a isso. Os comportamentos obtusos e competitivos se prolongam e aprofundam durante a história, deixando a humanidade a colher os seus frutos perversos, atônita e impotente.
Na gênese dos males da terra estamos nós, o ser humano, ironicamente o único ser aparelhado para refletir sobre a sua própria existência. Fundamos sistemas marcados pela dominação, desigualdade, manipulação. Nos valemos de ideias, preconceitos, capital, leis, normas e armas, para a manutenção destes sistemas opressores, que usam, silenciam, fazem aparecer coisas e pessoas, fazem desaparecer pessoas e coisas, ao sabor dos interesses mais egoístas, individualistas, cínicos.
Não estamos falando de pontuais acontecimentos ou extraordinárias características, mas de elementos constitutivos das organizações humanas, até hoje. A despeito da alardeada sociedade do conhecimento, permanece uma tessitura racista, elitista, machista, etc., regendo o mundo. Refletir sobre tais questões é tarefa mor da Educação, e o elemento primordial da mudança.
Precisamos, pois, fazer uso das nossas faculdades intelectuais para falar do que não é razoável, e definitivamente não é razoável que ainda estejamos deixando as crianças morrerem de fome (10 milhões, em 2009 – ONU), estejamos destruindo a Natureza, diferenciando pessoas pela cor (71% dos jovens na condição de pobreza extrema são negros – IBGE), caçando homossexuais (a cada 48h um homossexual é morto no Brasil – GGB), “apedrejando” mulheres (a cada 15 segundos uma mulher é espancada no Brasil - Perseu Abramo).
Falta de cuidado, desamor e violência perduram, e possuem uma tez visivelmente masculina. Eis uma das reflexões necessárias: as relações de Gênero, articulando um debate entre Identidade, Igualdade e Diferença. Longe de um discurso essencialista, dicotômico, maniqueísta, há uma histórica característica do papel de dominação ser ensinado ao homem. Quer seja na política, na economia, na linguagem, o masculino se sobrepõe, tornando-o, em larga medida, o escultor do tipo de sociedade que temos.
Como estamos educando homens e mulheres? Meninos costumam ganhar armas, helicópteros, carros, e uma nítida instrução para dominar o mundo. Meninas ganham bonecas, casinhas, e uma explícita determinação para cuidar do “outro”. Certamente não mudaremos o mundo apenas instituindo novas brincadeiras para as crianças, mas devemos entender como de fato tais brincadeiras não são apenas movimentos lúdicos.
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