DE QUEM É O VOTO?
Lembro quando fui conhecer as
instalações do Colégio particular, em que viria a lecionar, em Salvador, junto
com os outros professores recém selecionados, para aquela instituição de ensino. Não cheguei a externar isso para os presentes, era algo meu, profundo,
mas observava cada detalhe das salas, corredores, da cúpula azul e dizia para
mim,
- Poxa, eu sempre quis estudar
numa escola assim, e nunca tive oportunidade! Incrível hoje estar aqui como
professora.
Ainda me pego fazendo isso, de
vez em quando.
Passei a minha vida escolar toda,
em Ribeira do Amparo, estudando numa infraestrutura precária, com professores
valorosos, mas com os limites inerentes a realidade educacional da qual fazia
parte. Sempre ficava pensando,
- Se eu tivesse oportunidade de
estudar, com toda a base necessária, eu “iria longe”!
Não houve essa oportunidade, minha
família não tinha condições de bancar estudos caros.
Ao concluir o Ensino Médio,
porém, mainha (que sempre foi destas sonhadoras inveteradas e teimosa que só)
me obrigou a prestar o vestibular. Me obrigou, vale salientar, não é licença
poética, me recusava a prestar vestibular para não ter a certeza do que já
supunha, como passar num vestibular concorrendo com pessoas que foram
conteudisticamente, mais preparadas?
Para encurtar conversa, fiz o
vestibular para História em 1998 e passei na primeira chamada, da Universidade
do Estado da Bahia – Uneb. Fiquei chocada, emocionada e ao mesmo tempo me bateu
uma tristeza profunda por saber que, além de mim, nenhum outro ribeirense, até
então, tendo estudado a sua vida inteira em Ribeira, tinha entrado numa
universidade. Acredito que nasceu ali essa minha devoção por “fazer algo” por
Ribeira. Gostaria que todos tivessem a mesma oportunidade.
Apesar da minha experiência
pessoal, diferente do que reza o capitalismo, não acredito nessa conversa de
meritocracia. Passar no vestibular pode ter sido mérito meu, mas por trás disso
teve mainha professora e amante dos livros me estimulando desde cedo, teve o dinheiro
do vestibular para pagar a inscrição, teve a casa da minha tia para morar,
tinha comida e dinheiro para pagar o transporte até a Uneb... e principalmente pessoas dizendo
que eu podia! Ou seja, um conjunto de coisas mínimas que me deram asas para
voar. Sem esquecer aqui o papel dos meus professores, que apesar de não serem
graduados, foram buscar conhecimento para compartilhar com a gente.
Em resumo, sou uma brasileira,
nordestina, sertaneja, que vivenciou profundamente o que significa a
desigualdade social brasileira, mas atualmente se encanta por não mais
constatar que a falta de oportunidade rouba os sonhos das pessoas. Não como antes!
A minha palavra de ordem é esta:
OPORTUNIDADE, por isso estarei sempre perto de quem as cria, sempre distante de
quem as rouba. Logo, não adianta uma metralhadora de preconceitos, estereótipos
e rótulos, porque estes não me atingem. Aliás, quem arrota preconceitos fala
mais de si do que do outro, mostra ser uma pequeneza de ser humano, muitas vezes travestido
de defensor do Brasil, Brasil que desconhece, Brasil individualista, racista,
classista, egoísta!...
Portanto, que não me venha a
parcela preconceituosa do meu país querendo me dizer em quem votar, porque o
voto é meu, é livre, é pautado na minha experiência de vida, e esta diz um
veemente não a política excludente dos tucanos e diz um veemente sim a Dilma!
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