Ano passado tivemos
aproximadamente 160 alunos completando o Ensino Médio, em Ribeira do Amparo.
Afirmei isso numa das turmas de formandos, em 2015, perguntando em seguida
quantos destes nossos estudantes iriam ter a oportunidade de fazer uma
faculdade. Em meio ao silêncio que se seguiu a pergunta, lancei a hipótese de
quem sabe 10 dos 160 alunos, no Ensino Superior, mas as falas, agora imediatas,
discordaram completamente.
As falas concordavam que uma
dezena era hipótese otimista demais, para a realidade do nosso cenário
socioeducacional. Apesar de entusiasta, não discordei ou discordo da percepção
deles, esta é a verdade nua e crua, nossos estudantes sonham, mas ao longo dos
anos de formação vão sendo roubadas as suas oportunidades, com uma política
educacional omissa e tantas vezes deficiente.
Mas isto não é manchete nos
jornais ou motivo de indignação nas mesas de qualquer lugar, paira sobre o
abandono da juventude das classes menos favorecidas um silêncio cínico e
abominável, que é rompido quando jovens cometem algum desvio. A equação é muito
simples, nós roubamos os seus sonhos e direitos, mas não abrimos mão de que
cumpram com todos os seus deveres. Só nos importamos com vocês, quando vocês
nos importunam.
Já sem esperanças, na Escola
Estadual Josefa Soares, por exemplo, cada vez menos estudantes vêm optando pelo
ENEM. A situação se tornou tão drástica, que nem mesmo a nota da escola está
sendo computada pelo INEP. Com as turmas do ano passado, ciente da situação, tive
que apelar desde o primeiro dia de aula, com argumentos que iam desde a
importância da experiência com aquele tipo de prova, passando pelo SISU, PROUNI,
FIES, até surra de cansanção, para quem não fosse.
Não é fácil lutar contra as
engrenagens de uma estrutura perversa, como a que vivemos, uma verdadeira
máquina de moer sonhos e vomitar privilégios. É duro olhar para os seus alunos
e falar de esperanças, tendo que fazer todas as ressalvas por causa dos inúmeros
obstáculos que marcam as suas vidas. Nos memoriais feitos ano passado, como em
todos os anos, vejo registrado como os sonhos são tantas vezes reféns da
realidade, como na fala de uma aluna, que assim diz sobre o seu futuro:
O que eu quero ser? Nossa, sem dúvidas nutricionista, andei pesquisando coisas dessa área e me identifiquei muito. (Mas...) Minha mãe não tem boas condições financeiras, então procuro não cobrar nada dela.
O que eu quero ser? Nossa, sem dúvidas nutricionista, andei pesquisando coisas dessa área e me identifiquei muito. (Mas...) Minha mãe não tem boas condições financeiras, então procuro não cobrar nada dela.
Ou na fala de um aluno:
Eu sempre tive muita vontade de ser arquiteto, esse sempre foi meu sonho, gosto muito dessa área de trabalho, vivo fazendo maquetes, plantas de casas nas horas vagas, mas esse sonho fica um pouco distante por falta de recursos. Não tenho como investir em uma faculdade e minha família também não pode me ajudar muito. Assim esse sonho vai sendo adiado até pintar uma oportunidade aí. (E concluiu...) Sonhar, nunca desistir, ter fé, pois fácil não é, nem vai ser...
Eu sempre tive muita vontade de ser arquiteto, esse sempre foi meu sonho, gosto muito dessa área de trabalho, vivo fazendo maquetes, plantas de casas nas horas vagas, mas esse sonho fica um pouco distante por falta de recursos. Não tenho como investir em uma faculdade e minha família também não pode me ajudar muito. Assim esse sonho vai sendo adiado até pintar uma oportunidade aí. (E concluiu...) Sonhar, nunca desistir, ter fé, pois fácil não é, nem vai ser...
Tive dois alunos na escola
particular, em Salvador, que me impressionaram pela certeza precoce do que
queriam fazer, quando concluíssem o Ensino Médio, assim como pela escolha, até
certo ponto inusitada, do caminho a seguir. Eles sonhavam em ser pilotos de
avião, e hoje são. Um é da Aeronáutica e o outro piloto comercial. Me encanta
vê-los nas suas fotos pelos ares, porque me encanta a capacidade humana de
sonhar e também de realizar, mas ainda aguardo o dia em que as asas estejam ao
alcance de todos.
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